Fim de ano
Balanço
A minha existência ondeante, o ano, os anos
Muito se passou, muito há por(vir)
O que fiz, o que faço, o que farei?
Tive filhos, mandei plantar uma árvore, não escrevi
aquele livro
Mudei muito, mudo muito, sempre vou mudar muito
E tornei a ser o que sou
Eu não sei
Mutante que perscruta os enigmas que atormentam as criaturas que penam
Por este e por outros mundos
De dia, ainda que escaldante o sol ou torrencial a chuva
À noite, pelas sombras, iluminado apenas pelo frágil fogo da vela
Cera consumida grão a grão
Já fui crédulo mas a idade da razão me ensinou a descrer primeiro
Duvido como método mas quero crer
Em que?
Que não vou morrer em vão, que o vazio pode ser preenchido
Como um poema que vai dando forma e beleza à folha em branco
Como uma criança toda dependente da mãe que vai descobrindo os movimentos de emancipação
Não me pergunte sobre Deus, eu o procurei por todo canto
Em todo beco escuro
Nas igrejas, nos centros, nos templos, nas sinagogas
Como o filho bastardo atrás do pai desconhecido
Ansioso por uma verdade que, acredita, irá torná-lo menos indigno
Menos desprovido de uma causa plausível
Só encontrei o silêncio eloqüente da tragicomédia humana
A repugnante imagem da besta devorando a inocência ensangüentada
Pergunte-me sobre o Homem, eu os encontrei alguns
Homens e mulheres
Que desafiam a lógica dos céus e da terra, com técnica e arte
E das dores produzem a alegria momentânea de viver
Para a deles e para as gerações futuras
E eu os invejo de inveja boa
Não sou pessimista nem amargo, sou apenas o que vê com olhos críticos
Amei muito, amo muito, sempre vou amar muito
Porque só a paixão possui a capacidade de criar
A liberdade, a verdade, a beleza, a justiça
Porque só quem tem paixão está disposto o pagar o preço
De seguir em frente, sem medo do sofrimento e do fracasso
Amei e odiei as mulheres que me rejeitaram
Amei e desamei as que me amaram
E amo uma vez mais, combustível, inflamável
Eternamente enquanto dure
Até que a morte nos separe
À cumplicidade dos amantes não há gozo comparável
Mas tem o espelho
Revelando as rugas, os cabelos e a barba brancos, o segundo tempo
O tic tac jogando contra
Como eu queria a minha maturidade somada à juventude que perdi
Como eu desejo a sensual imortalidade do Highlander
Que pela espada vence deuses e demônios e mortais
Numa conquista constante da liberdade
Alimentando-se da aventura trovejante da história
E renascendo a cada instante e por toda a eternidade
Pudera eu viver sem fim para escrever história(s)
Não importa, tem o agora
A infinitude do presente aberta para a concretização dos sonhos
De liberdade
De verdade
De beleza
De justiça
Vou transformá-los em realidade agora, é o que importa
Porque o espelho também me confessa: você pode!
c cardoso
14 de dez. de 2008
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