Bob Buford, empresário discípulo do guru da Gestão Peter Drucker, escreveu um livro muito interessante, “Halftime”, na tradução brasileira com o titulo “A Arte de Virar o Jogo no Segundo Tempo da Vida”, ed. Mundo Cristão.
O autor observa que inúmeras pessoas na faixa etária entre 35 e 45 anos, embora bem-sucedidas em suas carreiras, se deparam com um sentimento de que há um vazio a ser preenchido em suas vidas. Pessoas que trabalharam incansavelmente para alcançar o sucesso, que souberam usar todo o seu talento para atingir o topo, conseguindo admiração em seu meio profissional e conquistando recursos mais do que suficientes para usufruir do melhor que a sociedade produz. Elas obtiveram sucesso mas sentem falta de um sentido. Ele assinala, então, que o primeiro tempo da vida se mostra um tempo do sucesso e o segundo deve apresentar-se como o do significado.
Ele relata o próprio caso, o de um proprietário e CEO de uma empresa de TV a cabo de expressão regional nos Estados Unidos, milionário, com uma família bem estruturada, firmada em valores consolidados, que em um determinado momento se pergunta se o que ele vem realizando até então é a sua verdadeira missão. A partir desta indagação, ele fez uma autoanálise e o que ele chama de “prospecção” no meio em que vive para verificar se e como ele pode realizar aquilo que o seu íntimo lhe revela como forma de obter a plenitude do ser. Buford, devido à sólida formação cristã, desvenda que a sua missão é contribuir para que os valores da sua crença efetivamente penetrem na sociedade americana, influenciando de modo substantivo o rumo dos Estados Unidos. Ele percebe que a sua vocação não é a de pastor, mas de gestor. Assim, e atento aos ensinamentos de Peter Drucker, ele deixa a sua empresa, sem abandonar o seu talento e os conhecimentos adquiridos ao longo do primeiro tempo do jogo da vida para, no segundo tempo, colaborar com pastores na gestão de igrejas e na formação de lideres e difundir suas ideias.
Não cabe, aqui, entrar no mérito das crenças religiosas de Bob Buford, que respeito sem concordar. Independentemente de ser ou não cristão, e eu não o sou, é de se reconhecer que essa, digamos, crise da meia-idade é real e merece ser levada a sério.
Curiosamente, antes mesmo de descobrir essa obra, eu também já fazia uma analogia entre o nosso tempo de vida e o tempo de uma partida de futebol, torcendo para que também a minha vida dure pelo menos 90 anos, com direito a prorrogação. E, igualmente, verifiquei que, chegado o tempo em que a contagem parece mais regressiva do que nunca, dar sentido à vida torna-se mais e mais imperioso, isto é, fazer aquilo que o mais íntimo do ser clama por ver concretizado, algo que registra que a existência não é vã, transforma-se em vital.
Na verdade, não se deve esperar até a meia-idade para isso. A vida não é um jogo com tempo certo para terminar e pode ser tarde demais quando se decidir por desviar para o caminho do ser. Tanto melhor compatibilizar ser e ter, desde cedo. Mas, não raro, as circunstâncias, como a necessidade de ganhar o pão de cada dia e de cuidar da família em um ambiente que não favorece a vocação, levam a priorizar o ter. O certo é que, mais cedo ou mais tarde, essa crise, que separa os dois tempos como um intervalo em que se avalia o resultado do jogo até o momento e se traça uma estratégia para não perdê-lo, terá que ser enfrentada, e só vencerá o que tiver a ousadia de superar o simples existir e criar o ser.
8 de fev. de 2010
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