26 de mar. de 2009
Maquiavel é coloquialmente lembrado pelo adjetivo pejorativo "maquiavélico". É, porém, necessário lê-lo a fim de se verificar que a sua obra não se limita a lições de malícia política. Em "O Príncipe", de onde retirei as frases antes citadas, o autor procura revelar, com olhar clínico, o jeito de fazer política do seu tempo comparando-o com modelos históricos. Fez ciência política ao modo renascentista. Como toda obra-prima e clássica, há nela conteúdo atemporal, lições que permanecem válidas ainda hoje, dentre elas a que aponta o governante como responsável não só pelos seus próprios atos como também pelos de seus assessores, uma vez que a escolha é dele. No Direito fala-se em responsabilidade "in eligendo" para obrigar também aquele que escolheu o autor do prejuízo sob o fundamento de que escolheu mal. Na República Federativa do Brasil, entretanto, os governantes são sempre irresponsáveis pelos atos ilegais e imorais dos que foram por eles nomeados e trabalham na sala ao lado. E, mais curioso, a desculpa de ignorância é aceita com naturalidade por boa parte da opinião pública. A mim me parece que a ignorância em um governante é imperdoável. Como alguém pode ser capaz de governar uma nação se é incapaz de governar os seus subordinados imediatos? Como alguém pode ter uma visão clara e adequada do que acontece no país e no mundo se é cego para o que acontece ao seu lado? Você entregaria a sua casa para essa pessoa cuidar, ou os seus filhos, ou sua empresa...?
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