13 de abr. de 2009
Menos automóveis, por favor
Um representante da indústria automobilística disse, em uma entrevista ao Carlos Alberto Sardenberg na CBN, que a meta dessa indústria no Brasil é alcançar a média norte-americana de um automóvel para cada dois habitantes, e que o país tem potencial para atingi-la. Atualmente, se não me falha a memória, a média é de sete por habitante. Sardenberg, com a perspicácia que lhe é própria, ironizou: São Paulo possui dois carros para cada habitante e a cidade está parada.O representante da indústria defendeu o seu negócio: o problema é o transporte público, o automóvel está ligado à liberdade de ir e vir, direito constitucional...eu não consigo perceber essa relação, especialmente dentro de um automóvel que se move a menos de vinte quilometros por hora em meio a um engarrafamento monstruoso, e que faz com que se perca horas preciosas no trânsito, furtando o acesso no tempo adequado ao trabalho e ao lazer. Aonde está a liberdade de ir e vir, quando todos os caminhos estão bloqueados por carros e mais carros? Eu já desejei voltar para São Paulo várias vezes, mas, quando penso nas dificuldades e na irritação trazidas pelo trânsito paulistano, me vem aquela dúvida cruel: vale a pena o sacrifício? Em Brasília, onde moro, o trânsito é bem melhor do que o de São Paulo, porém já há vários pontos de estrangulamento. E estacionar está cada vez mais difícil. Na quadra para onde mudei recentemente, eu raramente consigo uma vaga perto do meu prédio. Sou obrigado a estacionar meu carro em vias internas distantes e sem qualquer vigilância, às vezes ao lado de uma placa de proibido estacionar. Nosso Estado zomba da nossa cara, pra variar. Ele incentiva, até as raias da compulsividade, a aquisição de automóveis, mas não só não oferece estacionamentos suficientes como também veda e pune o estacionamento nos poucos locais disponíveis. E , nesse ponto, tem razão o representante da indústria automobilística, o Estado não dá a mínima para o transporte coletivo. É claro que é agradável andar no conforto do nosso carro. Melhor dizendo, já foi. Mas, se o Estado investisse mais na quantidade e na qualidade do transporte público, eu e muita gente optaríamos por esse meio e deixaríamos o carro em casa ou sequer teríamos um, uma vez que o seu custo de manutenção é alto e a sua depreciação é grande. As cidades e o meio ambiente agradeceriam. Poderia se alegar, como se alega: essa indústria é importante na cadeia produtiva e cria muito emprego direto e indireto. É verdade. Mas, se compararmos o número de beneficiados com o de prejudicados, será que realmente se justifica tanto incentivo prioritário dado pelos governos à industria automobilística, em detrimento dos serviços públicos de transporte que atenderiam a um número maior de pessoas? Quantos veículos automotores não circulam com apenas uma pessoa? Se queremos realmente melhorar a qualidade de vida em nossas cidades, precisamos optar por um modelo que desestimule o uso do transporte individual e incentive o coletivo.
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