9 de set. de 2009
Ainda acerca do brilho da mente
Dualistas como Descartes e talvez 90% das pessoas ( cristãos, pelo menos) acreditam que corpo e mente são substâncias diferentes. Muitos usam alma ou espírito como sinônimo de mente, que pode deixar o corpo a qualquer momento e ir para algum dos cenários de Dante, para alguma outra dimensão, ou reencarnarem. Eu, durante anos, por causa de histórias contadas no âmbito de minha família, dizia o seguinte: eu não acredito em fantasmas, mas que eles existem, existem. Certa vez, eu passava férias na velha casa de minha avó, em São João del Rey, típica cidade colonial mineira com igrejas e cemitérios em toda esquina, os primos se reuniram à noite para contar histórias de assombrações que viviam pela ruelas de paralelepípedos, pelos casarões centenários e pelos cantos escuros da casa da minha avó. Os mais velhos narraram os casos e os mais novos, entre eles eu, ouviram atentos, olhos arregalados. Alguns até choraram de medo. Eu ri, porque sabia que era tudo mentira. Mas, na hora de dormir, quem disse que eu conseguia dormir longe da minha mãe... Crescer num ambiente meio católico meio espírita faz você acreditar no sobrenatural, não tem jeito. O contato com a ciência, entretanto, e com as descobertas a respeito de o cérebro ser um complexo de neurônios conectados como circuitos eletrônicos que trabalha informações, percepções e sensações, e comanda o resto do corpo, foi me afastando dessas crenças, não sem uma resistência criada pela autoridade dos pais e da tradição. Não é fácil romper certas amarras. Mas, seguir rumo ao materialismo era inevitável. Disse uma cientista de Oxford, Susan Greenfield, que você é o seu cérebro. Eu não possuo conhecimento suficiente de neurociência para assinar em baixo da afirmação daquela senhora, mas a minha experiência com a memória, por exemplo, indica que ela tem razão: cérebro e mente estão intimamente vinculados, se não são uma coisa só. Alguns dizem até que não existe mente. Qualquer alteração cerebral, que é de natureza física, afeta a mente, a consciência. Qualquer um que já consumiu algum tipo de droga, lícita ou não, sabe disso. Também o desgaste do corpo pelo tempo, pela idade, afeta a memória, isto está provado, daí a recomendação de exercícios mentais para postergar esse desgaste. Não é a memória uma das características essenciais da mente, do eu? O que sou eu sem memória? De onde vem a minha consciência, a consciência de mim mesmo e de tudo o que há em volta? Ao observar um recém-nascido, parece-me que a sua mente é uma folha em branco; ao olhar para um defunto, parece-me que o que havia na folha se apagou. Será a consciência, então, resultado da interação do corpo, sob o controle do cérebro, com o ambiente? Recentemente li uma sugestão de Sam Harris, na obra A Morte da Fé, que me chamou muito a atenção por vir de um escritor que defende aguerridamente o ateísmo: ele recomenda como método para chegar mais perto das respostas a essas e outras perguntas a meditação budista. Sobre este assunto eu quero voltar depois.
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Um comentário:
Caro Cesar,
Diante de tantas indagações sobre esse assunto, sugiro a leitura do Livro "A cientista que curou seu próprio cérebro" Jill Bolte Taylor. Você entenderá a conexão entre mente, cérebro, consciência, alma, inteligência e amor sob um ponto de vista irrefutável. Confira. Abraços, Mariana
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