11 de jan. de 2010

Maus - Art Spiegelman

Li, recentemente, o livro "Maus" de Art Spiegelman, um romance em forma de história em quadrinhos que relata a vida de um judeu polonês, o pai do autor, durante o nazismo e a perseguição e matança de judeus, como também a relação do pai sobrevivente do Holocausto com o filho artista, depois da Guerra, nos Estados Unidos. A obra impressiona não só pelo tema abordado, que sempre nos atinge no mais fundo do ser diante da notória barbárie, mas igualmente pelo realismo que os desenhos metafóricos, em diversas tonalidades de preto e branco, transmite ao leitor. Os judeus são representados como ratos, os alemães gatos, os poloneses não judeus porcos, e os americanos cães. E, conforme as circunstâncias exigem, o rosto de rato mascara-se de porco, por exemplo, para passar despercebido diante das forças perversas e colaboracionistas. Os personagens surgem e desaparecem entre os milhões anônimos que vivem a luta extrema pela sobrevivência, perplexos em face do arbítrio levado às últimas consequências, em que a vida do inimigo imaginário vale menos que a de um rato em um laboratório ou nos esgotos pútridos. Obras como essa são sempre indispensáveis como alerta permanente contra o Estado absolutista e totalizante. Essa espécie de Estado alimenta a perversidade humana, seja por estimular o ódio contra o diverso, seja por consagrar a irresponsabilidade daqueles que o dominam ou que o servem; ele procura sustentar pela violência física e moral a idéia monolítica que justifica a ação dessa gente e não aceita o contraditório. Exige a unanimidade servil e mostra aversão ao indivíduo, em especial ao livre pensador. Só um indivíduo é sagrado: o Grande Guia, mitificado pela manipulação das informações e pela propaganda oficial, com suas fotos obrigatoriamente presentes nas paredes e nos meios de comunicação. Tudo em nome do coletivo, defendido heroicamente pelo Partido, que se pretende único, inigualável, e por seus membros que, sob o manto do idealismo, escondem o desejo insaciável das benesses colocadas à sua disposição pelo Poder como recompensa pela fidelidade. Todo ser humano deve prezar e lutar pela liberdade, sem a qual o humano não é por inteiro nem terá a oportunidade de realizar todo o seu potencial em favor do progresso da humanidade. Toda pessoa deve estar atenta às medidas dos Governos e de grupos intolerantes, tendentes à supressão da liberdade, a começar por aquelas que visam a restringir a liberdade de pensamento e de expressão. Combatê-las é essencial à conservação dos direitos e garantias individuais, pois, como a história demonstra, é inegável o poder das idéias, para o bem e para o mal, e só idéias podem verdadeiramente enfrentar idéias.

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