Por que a cultura brasileira não valoriza heróis? Por que nossa literatura e nosso cinema raramente retratam heróis? Por que não temos HQs com super-heróis nacionais, criados por autores nacionais? Em regra, no Brasil, prefere-se dar forma ao anti-herói e contar a nossa história como uma comédia de mal-gosto.
Essas perguntas não as faço de hoje. Mas, recentemente, assistindo ao filme “Pale Rider” (O Cavaleiro Solitário), de e com Clint Eastwood, elas me voltaram à mente. Clint Eastwood é um “Pregador” que luta contra o homem mais poderoso do pedaço. O todo poderoso usa de todos os meio, inclusive da violência, para se apoderar das terras dos garimpeiros e do ouro que elas escondem. O “Pregador”, um homem visto como santo, os encoraja a resistirem. Ele conhece bem as armas do inimigo e sabe usá-las com precisão. Não tem pudor em utilizá-las. E, como é costumeiro e até engraçado nos filmes do gênero ( o tiro do mocinho é sempre certeiro e os inúmeros dos bandidos sempre errados), o herói sozinho derrota dezenas de vilões.
O filme nada tem de original, mas é interessante pela presença de Clint Eastwood, um diretor e um ator cada vez mais admirado por contar e representar histórias de pessoas com fibra, que não temem desafios, embora nem sempre vençam a última batalha. Contudo, fez-me refletir – e provocar a reflexão é algo que valorizo na arte – na importância do herói e na falta que ele faz.
Coloquialmente, chamamos de herói todo aquele que luta contra adversidades, com bravura, muitas vezes se sacrificando em prol de um desconhecido ou da nação. Existem centenas de heróis anônimos por este país afora. É de se mencionar como exemplo o dos bombeiros, que não só apagam incêndios, também salvam vidas arremessadas no trânsito e, até, fazem partos.
Porém, o herói que desejo destacar é o que luta pela justiça e pela liberdade, esse representado pelo “Pregador” do filme de Eastwood, e que o imaginário norte-americano, em especial, produz às pencas, enquanto o nosso parece desdenhar. A Justiça e a Liberdade são os valores supremos e, por isso, os heróis que lutam por elas devem ser exaltados entre todos e retirados do anonimato. Com super-poderes ou com o poder de uma colt, ou com o simples poder das palavras. Tiradentes e Zumbi dos Palmares são modelos históricos, que deveriam ser lembrados não só nos dias oficiais mas frequentemente, por meio das artes.
Enaltecer os heróis, os americanos sabem bem, e os gregos já o sabiam há milênios, tem um efeito multiplicador e engrandecedor da nação. O herói se incorpora ao inconsciente coletivo e faz com que acreditemos que podemos vencer qualquer inimigo, a injustiça e a opressão, a mentira e a corrupção. Eleva a auto-estima de um povo.
Não se está aqui fazendo apologia de pistoleiros que pretendem fazer justiça com as próprias mãos, como nos tempos das diligências, criando esquadrões da morte nas comunidades carentes, embora a sensação de se viver em uma terra sem lei as vezes provoque o desejo de pegar em armas e sair à caça de estupradores, homicidas e políticos corruptos... Felizmente vivemos em um Estado Democrático de Direito e a justiça deve ser feita segundo as leis. Porém, as leis devem ser elaboradas para funcionar, não para legitimar o ilegítimo nem para dar aparência de civilização à barbárie, sob pena de estimular a geração de justiceiros atuando à margem da lei, como o cinema não se cansa de alertar.
O que se pretende aqui é fazer a defesa dos que lutam incansavelmente pelas causas nobres, especialmente pela justiça e pela liberdade, muitas vezes sacrificando a própria vida ou a própria liberdade, porque, como diria Brecht, são eles que fazem a diferença e são indispensáveis.
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