28 de jun. de 2009

simplicidade


Li, recentemente, um artigo informando que várias pessoas, em virtude da crise econômica, estão adotando uma vida mais simples, frugal até. Muitas delas, por falta de dinheiro simplesmente; algumas, por se conscientizarem de que o consumo exagerado de bens e serviços produz mais estresse do que prazer. Aquelas, depois da crise voltarão a consumir despreocupadamente, estas, prosseguirão com uma nova filosofia de vida. Com a idéia de que não se deve possuir mais do que o realmente necessário, eu já concordava muito antes da crise. Aprendi, há muito, com Gandhi, que, se você possui dois pares de sapatos, é provável que alguém esteja descalço. De fato, eu só preciso de um par de sapatos pretos e de outro de marrons para combinar com os ternos escuros e claros, respectivamente, mas bem engraxados. Verdade que tenho alguns pares de tênis também, uma mania que estou controlando. Verdade também que minha compaixão não é mais como era naqueles tempos idealistas, quando conheci a biografia e o pensamento do líder indiano. Hoje penso que ninguém deve receber nada de graça, tem que fazer por merecer, para dar valor ao que possui. Ainda acredito na simplicidade, e, também, no utilitarismo, isto é, devemos possuir o que é realmente necessário e útil, e nos preocupar com as conseqüências de nossos hábitos de consumo sobre nós mesmos e sobre o meio em que vivemos. Tenho feito coisas básicas em relação à proteção do meio ambiente e à diminuição do efeito estufa, insuficientes, eu sei, mas um começo: fico menos tempo no chuveiro, apesar de gostar de ficar debaixo da água quente pensando na vida; controlo o consumo de água ao lavar louça, escovar os dentes e fazer a barba; apago a luz quando saio do local; uso menos o automóvel e ando mais; separo o lixo orgânico; economizo folhas de papel, evitando impressões desnecessárias; acima de tudo, evito desperdícios. No que diz respeito ao consumo, eu, antes de comprar algo, pergunto-me se eu tenho condições financeiras, depois se eu preciso ( não pergunto se eu mereço, porque a resposta seria sempre afirmativa). Começo a considerar, no momento da compra, a responsabilidade social e ecológica do produtor, por exemplo, se ele não desrespeita os direitos básicos dos seus empregados ou se não utiliza madeira proveniente de desmatamento ilegal; se o produto é reciclável; se o alimento é orgânico... Falando em alimentos, comer menos é melhor (sem perder a graça e o sabor jamas), revela a ciência. E estou nesse caminho, o famoso caminho do meio. Esse meu comportamento está ligado ao meu desejo de alcançar maior equilíbrio interno e, a partir daí, uma relação mais harmônica com as pessoas e com as coisas do mundo, vontade esta que não é recente mas que estava exilada em algum canto escondido da alma. Não quero mais me desgastar física e mentalmente com coisas desimportantes ou desnecessárias. Meu tempo e minha energia são cada vez mais preciosos, tendo em vista que estou cada vez mais próximo dos cinqüenta. Quero sim a sabedoria para identificar o que vale a pena e aí então lutar muito para obtê-lo e conservá-lo. Algo que vale a pena é contribuir para que meus filhos, netos e os que vierem depois encontrem uma qualidade de vida melhor, um planeta ainda belo, e uma sociedade mais ética, com menos corrupção e violência. Enfim, preservar o que é bom e eliminar o que não presta, substituindo-o por algo melhor. Como distinguir o que é bom do que não o é? Este conhecimento a humanidade vem produzindo por milênios e o transmitindo por meio de mestres. É se utilizar da razão crítica ( jamais se deixar levar pela fé cega) e, por que não?, da intuição, para colher e apreender as boas lições e colocá-las em prática. E criar novas lições. Atenção! Cuidado! O que não falta são os falsos profetas e os iluminados sem luz própria. Encerro com a saudação vulcana do Sr. Spock: “Vida longa e prosperidade”.

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