16 de jun. de 2009
Somos livres e responsáveis por nossas ações
Sartre dizia que a existência precede o ser, isto é, que existimos primeiro como uma folha em branco e que, em essência livres, vamos escrevendo nessa folha o nosso modo de ser. E ressalta a gigantesca responsabilidade, quase insuportável, que essa liberdade põe em nossos ombros. Não sem razão, a maioria de nós prefere abrir mão dessa liberdade ou negar que ela exista, para jogar a responsabilidade nas costas dos outros. A primeira culpa atribuímos à serpente e, depois, à mulher Eva. Em seguida, acusamos os pais ( que nos trouxeram para esse mundo de dor e nos impregnaram de sua cultura reacionária), o povo (do qual nos excluímos), o governo e os políticos (como se eles não estivessem aonde estão por escolha ou omissão nossa), a burguesia ( que nos impõe angústias e prazeres), os imperialistas ( que exploram as nossas fraquezas mas nos disponibilizam Ipods, Iphones e música pop)... os outros, sempre os outros são os culpados. O inferno são os outros, diz umn personagem sartriano. Afinal, os outros são castradores, alegamos. Na verdade, nós somos castradores de nós mesmos, porque odiamos responsabilidades. Não nego que há fatores externos e internos nos influenciando desde o DNA. Não nego a influência de Eva, dos pais, do governo e dos políticos, do nosso povo e de nossa cultura. O que afirmo é que podemos superar essas influências e sermos a concretização dos nossos projetos. Não fora assim, ainda seríamos primitivos sobrevivendo às intempéries por meio da caça. Não fora assim, Chaplin, filho de um alcoólatra e de uma louca não seria Chaplin; o mulato Machado de Assis não seria o fantástico escritor brasileiro Machado de Assis; os negros Martin Luther King e Nelson Mandela não teriam sido os lideres que foram; o filho ilegítimo Leonardo da Vinci não seria a expressão da genialidade renascentista; a russa Ayn Rand, vitima da revolução de 1914, não seria um fenômeno literário e filosófico libertário americano... É a nossa capacidade de escolha e a nosso compromisso com ela que faz com que superemos os limites estabelecidos por forças alheias à nossa vontade. Se desejamos ser mais que marionetes, precisamos assumir nossa liberdade e a responsabilidade dela decorrente. Necessitamos carregar o peso e não atribuir-lhe a outros. Lutar pela liberdade e escrever a nossa história. E fazer que esta história valha para a posteridade. Porque não há nada mais além disso. Por isso Sartre, apesar de alguma de suas escolhas equivocadas, como a opção pela esquerda, pelo stalinismo e depois pelo maoísmo, ainda está vivo.
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