Cantou, sem preocupação com a rima, um trovador errante
Renegado em sua pátria como se profeta bíblico fora:
- Escuta aqui, Brasil,
Já faz quinhentos anos e eu retirante,
Longe da terra prometida aos nossos pais!
Quanto mais devo vagar sobre o seu solo
Carcomido pela ganância incontida?
Quanto mais devo me embrenhar em suas matas
Perdidas pela violação impunida?
Quanto mais devo me banhar em seus rios
Habitados por dragões e cobras gigantes,
Até encontrar repouso na casa de pedra
Erguida entre muralhas de Razão altas?
Deito no chão rude e frio, para esperar passar a noite.
Não há fogo que afaste o tremor de meu corpo.
Não há água que dessedente o fervor de minhas veias.
Não há alimento que sacie o rigor de minha mente.
Ouço os gemidos dos que morreram em vão.
Há o silêncio dos que vivem insanos.
Fantasmas todos que atormentam o meu sono ao léu.
Levanto, ergo-me mais uma vez,
Para dar continuidade à busca da terra natal;
Pátria amada, cantada, mas não decantada...
Vejo abutres planando em círculos.
O gado, com os ossos à mostra, resistindo à queda fatal.
Um cão de cor poeira enlouquecido, latindo pro céu.
Sigo armado com palavras como espada
E com a reflexão como escudo.
Não fujo do bom combate contra a mentira e a opressão.
Aonde quer que eu chegue, como nômade ainda,
Recolho as pedras que construirão a casa e o muro,
E elevarão o meu povo brasileiro
Das trevas medievais à luz da Civilização.
c cardoso
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