24 de fev. de 2009

É carnaval 2!

É carnaval! Eu nunca fui um grande apreciador do carnaval. Sempre vi o carnaval com reservas, por causa dos excessos desnecessários. Muita bebida e outras drogas; muita erotização; um descontrole desconcertante em que muito do animal que há em nós aflora e se sobrepõe à razão. Entretanto, não sendo um puritano, procuro compreender o que se passa, quero entender que euforia é essa incontida que cheira a revolta contra a tristeza: parece que todos os demônios aprisionados na alma são liberados, para alivia-la da pressão perturbadora, acumulada no ano que passou. Durante este período de folia, a impressão é a de que tudo é permitido, sem limites, até chegar a Quarta-Feira de Cinzas. Descarregados os espíritos, vem a quaresma de purificação. E o ciclo de perturbação crescente recomeça. Talvez o carnaval seja mesmo um meio relativamente eficiente, criado pela imaginação popular, para podermos suportar o absurdo que permeia a existência humana, em especial no Brasil em que a sensação do irrazoável é uma constante.

Para conhecer melhor a alma brasileira, que também é a minha, sambei. No sábado, fui a um boteco, onde um grupo muito bom tocou samba ao modo das rodas da velha-guarda do Rio. Empolguei-me. Comecei, no início, dançando arrastado e duro como se fosse um gringo sem ginga alguma; depois, me senti já um sambista carioca leve e solto, os passos pulsando forte com as batidas da percussão e conduzidos pelas cordas do cavaquinho e do violão. Não me apaixonei pelo samba, porque é o rock com sua eletricidade inconformista que faz ferver as minhas veias, mas adquiri mais respeito por essa música tão plena de brasilidade. No domingo, fui a um clube, onde tocou um grupo carioca chamado Monobloco. Naquela ocasião, presenciei com indignação uma das características nacionais que mais me repugnam: o desrespeito ao meu tempo e ao dinheiro que gastei para entrar na festa. O show começou com três horas de atraso. Durante a espera, fui obrigado a escutar barulho americano da pior qualidade. Curioso é que parecia que eu era o único incomodado. Tive vontade de ir embora antes do show começar e pegar meu dinheiro de volta. Procurei um responsável, mas, nestas horas, nunca se encontra uma pessoa para quem reclamar. Só consegui falar com uma pessoa do clube que disse não ser responsável por nada nem saber quem o era. Ela comentou que esse atraso é normal, e olhou para mim como se eu fosse um idiota em pretender o contrário. Fazer o quê?, conformei-me com bom brasileiro, afinal é tudo carnaval! O grupo tocou uma hora, um samba elétrico que não me emocionou, parou para um intervalo, e recomeçou com funk. Impossível suportar cinco minutos mais. Fui para casa com o sentimento de que a leveza de sábado tinha se esvaído um pouco. Ainda bem que tem a terça-feira e o bloco do Pacotão ironizando a Dilma e o Lula, e por essa alegria impagável eu só preciso sacrificar a sola do sapato.

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