Lya Luft, em sua coluna na VEJA desta semana, fala da sua esperança (embora mesclada com certo ceticismo) provocada por Barack Obama na presidência dos Estados Unidos:"Obama voltou a acender em mim uma ideia entre matreira e inocente de que afinal nem tudo está perdido". Também eu senti a alegria de ver no cargo mais importante do Globo um homem cujas histórias biológica e cultural são marcadas pela boa convivência das diferenças em um meio dominado pelo preconceito. Não por considerar Obama o primeiro presidente americano negro, mas por tê-lo como símbolo do ser humano multiracial, nem só negro, nem só branco, quase brasileiro. A meu ver, ele representa a vitória da não-discriminação, não só entre raças mas também entre crenças.
Ele me faz recordar outra grande pessoa, que viveu entre nós até recentemente, lutando pela tolerância entre os desiguais: Pierre Weil. Este francês, cidadão do mundo, que adotou o Brasil e Brasília, nasceu na Alsacia disputada a séculos, ora francesa, ora alemã, conforme o resultado da guerra. Era filho de mãe católica e de pai judeu, algo raro por causa das grandes diferenças religiosas e das perseguições que ainda hoje mantêm afastados e desconfiados católicos e judeus. Essa experiência de ponto e contraponto fez com que ele compreendesse, como poucos, o valor da paz, construída a partir do interior do indivíduo em direção à harmonia entre os povos. Como Weil, Obama revela o equívoco que é combater racismo com racismo (ismo contra ismo igual abismo). Como Weil, Obama oferece a esperança de que é possível viver em paz com quem é diferente, com base no respeito mútuo.
Obama, reafirmando a sua fidelidade aos valores dos Pais de sua Nação, também aponta o erro dos anti-americanistas que, a exemplo das esquerdas latino-americanas, vêm no triunfo do novo lider o início do fim do modelo americano de pensar e viver. Ora, Obama é produto desse modelo embasado na democracia, na livre iniciativa e na igualdade de oportunidades. Graças a esse modelo, ele teve a oportunidade de frequentar duas das melhores Universidades do mundo e soube e pode tirar proveito desta oportunidade, apesar das adversidades e dos preconceitos relacionados à sua ascendência. Seria possível a ascensão de Obama na Amércia Latina imaginada por Chaves e pelo PT (uma grande Cuba), na China, no Irã... ou mesmo na França, vista por muitos como o modelo ocidental alternativo ao norte-americano?
Não sou pró-Estados Unidos de forma cega e incondicional. Tenho plena consciência de que, também lá, há muitos vícios, dentre os quais a violência e a corrupção, e que a sociedade norte-americana está longe de ser perfeita. Mas não posso deixar de admirar os mecanismos, por ela elaborados e solidificados progressivamente, desde a independência e a partir de sua Constituição federal, no intuito de superar os seus limites e diminuir as suas fraquezas, sem paternalismo.
26 de fev. de 2009
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