18 de mai. de 2008

escritores: Henry e Anais

Acabo de rever "Henry e June" de Philip Kaufman, o mesmo diretor do maravilhoso "A insustentável leveza do ser", que também necessito rever. Um filme memorável pela beleza plástica - uma Paris cinzenta, com bares e bordéis repletos de fumaça de cigarros e vielas ou becos dominados pela neblina do outono e inverno - e pela pujança da história baseada no romance de Anais Nin. Na verdade, o título poderia ser "Henry e Anais", a história da relação entre dois escritores - da autora com Henry Miller - fundamental para a obra de um de outro. Esses escritores, que reconhecem D. H. Lawrence como um marco na literatura contemporânea por quebrar tabus, enfatizaram que o sexo não é algo impuro mas, ao contrário, parte inseparável da inocência, o que, para uma sociedade embasada no puritanismo de Paulo, soa absurdo. Miller sob o ponto de vista masculino e Anais Nin sob o feminino, o que a torna um paradigma literário. Não sem razão, a obra de Miller, americano de origem alemã que se auto-exilou na França na primeira metade do século passado, não ter sido publicada nos Estados Unidos durante décadas. Ainda bem que existem Paris e franceses, como até o new yorker Woody Allen admite. Ainda bem que existem os EUA e americanos como Miller e Allen. E o próprio Kaufman, que também é americano. Porque, no fim, são eles que hoje revelam o artista para o mundo. Apesar de todos os defeitos da "América", eu concordo com o Caetano: grande parte da alegria do mundo vem dos americanos. O puritanismo não impediu o florescimento da rica literatura americana; talvez o catolicismo tenha prejudicado mais o despontar da nossa literatura luso-brasileira. O mais interessante na relação Anais Nin & Henry Miller foi a capacidade de um excitar a obra do outro, como se um injetasse sangue em ebulição na veia do outro, e daí um e outro extraíssem arte pura. Vale, a partir do filme, ler as obras desses escritores, "Trópico de Câncer", de Miller, para começar, e "Henry e June" de Anais Nin. Nin também tem um livro muito interessante, de ensaios, chamado "Em busca de um homem sensível", que mostra a dificuldade das mulheres lidarem, ainda hoje, com homens que não pretendem dominá-las. Salve, então, Henry e Anais.

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