28 de fev. de 2009

Corrupção

Li recentemente o livro "Corrupção", de José Antônio Martins, filósofo paulista. Ele aborda o tema (distinguindo corrupção política, objeto da análise, de corrupção moral) com a clareza e a simplicidade necessárias a desafiar o leitor a aprofundar a curiosidade e o estudo a respeito, revelando que a problemática tem sido uma preocupação permanente dos filósofos, desde Platão e Aristóteles, com destaque para o pensamento de Maquiavel. A corrupção política ocorre quando os donos do Poder se valem desse poder para satisfazer interesses particulares em detrimento do bem comum. Pelo que se depreende, a corrupção é inerente à vida política como o é à vida biológica, isto é, os regimes políticos, as formas de governo, a exemplo do corpo de todos os seres vivos, nascem, progridem, alcançam seu apogeu, entram em decadência, degeneram e morrem para dar lugar ao novo, em um movimento cíclico..., alguns logo no nascedouro, outros após vida longa. A corrupção é tratada mesmo como o motor que leva à transformação, porque mobiliza as forças contrárias que se unem para extirpar o estado de degeneração, no extremo por meio de revolução, e para estabelecer uma nova estrutura política. O paralelo é muito interessante. Como é possível prolongar a vida com medidas salutares, também é viável alongar o tempo de existência do regime por meios eficazes de controle da corrupção, o principal deles a participação permanente do cidadão, não apenas votando nas eleições, e não necessariamente por partido político, mas fiscalizando, debatendo, pressionando e, principalmente, lutando pelo fortalecimento e pela eficiência das instituições próprias do Estado Democrático de Direito. O cumprimento e a exigência do cumprimento da Constituição e das leis, por todos, inclusive pelos governantes, é passo primeiro e fundamental. E a punição exemplar de quem as viola é remédio indispensável. À questão "É o Brasil corrupto?", Martins, embora alertando para o perigo da generalização quando se trata de indivíduos, responde afirmativamente. Observa, contudo, que há muita disposição para combater a corrupção e que o foco não deve ser o indivíduo mas os mecanismos que a permitem e a incentivam. Conclui: "o melhor remédio para a corrupção, prescrito desde a Antiguidade, é a participação política, o envolvimento com a res publica, com as coisas públicas, com aquilo que diz respeito a todos nós. Em sociedades que esquecem a esfera pública, o terreno já está preparado para a proliferação de casos de corrupção. Ao contrário, naquelas onde os indivíduos têm consciência de que devem tomar parte na esfera da vida que ultrapassa o eu, fazendo dela um nós, a corrupção e os corruptos correm sérios riscos." Sábia lição!

27 de fev. de 2009

Soneto ao neto de Maria

Surgiu o Dia, a luz frágil e tênue da aurora.
Um choro berrou espanto e nostalgia.
Um pranto soou mimo e alegria.
O marmanjo se segurou para não cair no solo.

Nasceu o Gabriel, a alma límpida de recém-nascido.
A boca miúda pedindo aconchego e colo.
As mãos trêmulas da mãe abraçando o corpo delicado.
Uma lágrima é contida, porque homem não chora.

Que boa nova tu trazes, anjo enviado do céu!
Tu fazes esvair o temor pelo agora,
E crer na abundância de leite e mel!

Sejam as forças do Universo louvadas!
Dê-se início ao banquete sem demora.
Pela chegada do filho, trombetas sejam tocadas!

c cardoso

26 de fev. de 2009

A esperança em Obama

Lya Luft, em sua coluna na VEJA desta semana, fala da sua esperança (embora mesclada com certo ceticismo) provocada por Barack Obama na presidência dos Estados Unidos:"Obama voltou a acender em mim uma ideia entre matreira e inocente de que afinal nem tudo está perdido". Também eu senti a alegria de ver no cargo mais importante do Globo um homem cujas histórias biológica e cultural são marcadas pela boa convivência das diferenças em um meio dominado pelo preconceito. Não por considerar Obama o primeiro presidente americano negro, mas por tê-lo como símbolo do ser humano multiracial, nem só negro, nem só branco, quase brasileiro. A meu ver, ele representa a vitória da não-discriminação, não só entre raças mas também entre crenças.
Ele me faz recordar outra grande pessoa, que viveu entre nós até recentemente, lutando pela tolerância entre os desiguais: Pierre Weil. Este francês, cidadão do mundo, que adotou o Brasil e Brasília, nasceu na Alsacia disputada a séculos, ora francesa, ora alemã, conforme o resultado da guerra. Era filho de mãe católica e de pai judeu, algo raro por causa das grandes diferenças religiosas e das perseguições que ainda hoje mantêm afastados e desconfiados católicos e judeus. Essa experiência de ponto e contraponto fez com que ele compreendesse, como poucos, o valor da paz, construída a partir do interior do indivíduo em direção à harmonia entre os povos. Como Weil, Obama revela o equívoco que é combater racismo com racismo (ismo contra ismo igual abismo). Como Weil, Obama oferece a esperança de que é possível viver em paz com quem é diferente, com base no respeito mútuo.
Obama, reafirmando a sua fidelidade aos valores dos Pais de sua Nação, também aponta o erro dos anti-americanistas que, a exemplo das esquerdas latino-americanas, vêm no triunfo do novo lider o início do fim do modelo americano de pensar e viver. Ora, Obama é produto desse modelo embasado na democracia, na livre iniciativa e na igualdade de oportunidades. Graças a esse modelo, ele teve a oportunidade de frequentar duas das melhores Universidades do mundo e soube e pode tirar proveito desta oportunidade, apesar das adversidades e dos preconceitos relacionados à sua ascendência. Seria possível a ascensão de Obama na Amércia Latina imaginada por Chaves e pelo PT (uma grande Cuba), na China, no Irã... ou mesmo na França, vista por muitos como o modelo ocidental alternativo ao norte-americano?
Não sou pró-Estados Unidos de forma cega e incondicional. Tenho plena consciência de que, também lá, há muitos vícios, dentre os quais a violência e a corrupção, e que a sociedade norte-americana está longe de ser perfeita. Mas não posso deixar de admirar os mecanismos, por ela elaborados e solidificados progressivamente, desde a independência e a partir de sua Constituição federal, no intuito de superar os seus limites e diminuir as suas fraquezas, sem paternalismo.

24 de fev. de 2009

É carnaval 2!

É carnaval! Eu nunca fui um grande apreciador do carnaval. Sempre vi o carnaval com reservas, por causa dos excessos desnecessários. Muita bebida e outras drogas; muita erotização; um descontrole desconcertante em que muito do animal que há em nós aflora e se sobrepõe à razão. Entretanto, não sendo um puritano, procuro compreender o que se passa, quero entender que euforia é essa incontida que cheira a revolta contra a tristeza: parece que todos os demônios aprisionados na alma são liberados, para alivia-la da pressão perturbadora, acumulada no ano que passou. Durante este período de folia, a impressão é a de que tudo é permitido, sem limites, até chegar a Quarta-Feira de Cinzas. Descarregados os espíritos, vem a quaresma de purificação. E o ciclo de perturbação crescente recomeça. Talvez o carnaval seja mesmo um meio relativamente eficiente, criado pela imaginação popular, para podermos suportar o absurdo que permeia a existência humana, em especial no Brasil em que a sensação do irrazoável é uma constante.

Para conhecer melhor a alma brasileira, que também é a minha, sambei. No sábado, fui a um boteco, onde um grupo muito bom tocou samba ao modo das rodas da velha-guarda do Rio. Empolguei-me. Comecei, no início, dançando arrastado e duro como se fosse um gringo sem ginga alguma; depois, me senti já um sambista carioca leve e solto, os passos pulsando forte com as batidas da percussão e conduzidos pelas cordas do cavaquinho e do violão. Não me apaixonei pelo samba, porque é o rock com sua eletricidade inconformista que faz ferver as minhas veias, mas adquiri mais respeito por essa música tão plena de brasilidade. No domingo, fui a um clube, onde tocou um grupo carioca chamado Monobloco. Naquela ocasião, presenciei com indignação uma das características nacionais que mais me repugnam: o desrespeito ao meu tempo e ao dinheiro que gastei para entrar na festa. O show começou com três horas de atraso. Durante a espera, fui obrigado a escutar barulho americano da pior qualidade. Curioso é que parecia que eu era o único incomodado. Tive vontade de ir embora antes do show começar e pegar meu dinheiro de volta. Procurei um responsável, mas, nestas horas, nunca se encontra uma pessoa para quem reclamar. Só consegui falar com uma pessoa do clube que disse não ser responsável por nada nem saber quem o era. Ela comentou que esse atraso é normal, e olhou para mim como se eu fosse um idiota em pretender o contrário. Fazer o quê?, conformei-me com bom brasileiro, afinal é tudo carnaval! O grupo tocou uma hora, um samba elétrico que não me emocionou, parou para um intervalo, e recomeçou com funk. Impossível suportar cinco minutos mais. Fui para casa com o sentimento de que a leveza de sábado tinha se esvaído um pouco. Ainda bem que tem a terça-feira e o bloco do Pacotão ironizando a Dilma e o Lula, e por essa alegria impagável eu só preciso sacrificar a sola do sapato.

20 de fev. de 2009

é carnaval!

Chico Buarque é um dos artistas mais brilhantes deste planeta, escreve letras extraordinárias (se bem que não ultimamente), não só pela forma precisa com que ele constrói os seus poemas, mas também pelo retrato fiel da vida neles contido, sempre belo mesmo quando revela uma tragédia. Sua obra certamente repercutiria muito mais, em nível global, se escrevesse em língua inglesa, aliás como a de vários artistas nossos, porque, infelizmente, os que escrevem em português (com algumas exceções), e embora muito melhores do que muito americano ou inglês, são pouco lidos, inclusive no Brasil. Mas é carnaval:

'Noite dos Mascarados
Composição: Chico Buarque
"
- Quem é você?
- Adivinha se gosta de mim
Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- ...que eu quero saber o seu jogo
- ...que eu quero morrer no seu bloco...
- ...que eu quero me arder no seu fogo
- Eu sou seresteiro, poeta e cantor
- O meu tempo inteiro, só zombo do amor
- Eu tenho um pandeiro
- Só quero um violão
- Eu nado em dinheiro
- Não tenho um tostão...Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
- Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar
- Eu sou tão menina
- Meu tempo passou
- Eu sou colombina
- Eu sou pierrô
Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira que você me quer
O que você pedir eu lhe dou
Seja você quem for, seja o que Deus quiser
Seja você quem for, seja o que Deus quiser"

15 de fev. de 2009

Vez por outra, revolta-me o Brasil. Sinto uma raiva expressa com palavras de menosprezo, como se este não fosse o meu país. Fico indignado por presenciar ou ter notícia de constante desrespeito ao próximo por parte de conterrâneos de todas as idades, de todos os sexos, de todas as raças, de todas as classes sociais, de todos os graus de instrução. Fura-se a fila; joga-se lixo no chão, perto de uma lixeira; ultrapassa-se o sinal vermelho; estaciona-se ao lado de uma placa de proibido estacionar; vende-se e compra-se produtos pirata; frauda-se a previdência; adultera-se remédios; apresenta-se atestado médico falso; finge-se trabalhar enquanto se joga paciência; desvia-se merenda escolar; integra-se à bolsa-família sem apresentar os requisitos necessários ou sem efetuar a contrapartida devida; superfatura-se obras públicas; compra-se políticos, juízes e outros servidores públicos... a lista parece interminável (vide jornais). Eventualmente noticia-se com alarde conduta honesta que quase choca: alguém encontrou na rua uma dinheirama e devolveu para o dono!!! Ou a solidariedade, por meio de doações, a vítimas de catástrofes ( o diabo é que mesmo em momentos de infortúnio, há sempre um esperto querendo levar vantagem).
O mais trágico é a violência no pais: o numero de mortes violentas causadas pela inconseqüência e pelo desprezo à vida supera, em muito, o de guerras grandes ou seculares.
Surge o sentimento de impotência, e a reação seguinte é a da alienação, a de valorizar as coisas estrangeiras, do primeiro mundo, com admiração desmedida, como se lá também não existissem mazelas. Dá vontade de pegar o primeiro avião e mudar para um pais anglo-saxão, ou para a Europa.
Estou consciente que fugir não resolve nada. Sei também que, abrir mão de minhas raízes, aprofundadas por séculos de história neste solo, significa entregar covardemente, ao bandido, toda a riqueza imaterial conquistada pelo labor duro dos meus antepassados. Seria desonrá-los. Seria igualmente negar esse bem de valor inestimável aos meus descendentes, obrigando-lhes a vivenciar a dor de começar do nada, sem vínculos, estrangeiros desamparados e tratados com desdém.
O que fazer, então, em defesa das gerações futuras? Como legar-lhes um país melhor, do qual sintamos orgulho?
Talvez o primeiro passo seja pregar, a partir do exemplo, o respeito mutuo, demonstrando que, sem a observância dessa regra de conduta elementar, o convívio social vai se degradando até o inviável e a sobrevivência passa a ser condicionada não pelo uso da razão mas pela prevalência dos instintos primitivos, numa luta selvagem envolvendo predador e presa. É necessário também divulgar os valores supremos elaborados pela evolução do pensamento, a começar pela dignidade da pessoa humana. É fundamental, ainda adquirir e espalhar conhecimento, com ênfase a tudo o que se refere ao Brasil e ao povo brasileiro, a fim de identificar não apenas as nossas limitações, visando superá-las, mas especialmente nossas qualidades – que não são poucas, pois, do contrário, não seriamos uma das maiores economias emergentes do planeta - de modo a utilizá-las em prol do desenvolvimento da nação e da Humanidade. Educar-se e educar, em suma, na crença e na esperança de que a maioria de nós brasileiros é digna e deseja mudar este estado de corrupção, só não sabe com clareza como.

12 de fev. de 2009

Cantou, sem preocupação com a rima, um trovador errante
Renegado em sua pátria como se profeta bíblico fora:
- Escuta aqui, Brasil,
Já faz quinhentos anos e eu retirante,
Longe da terra prometida aos nossos pais!

Quanto mais devo vagar sobre o seu solo
Carcomido pela ganância incontida?

Quanto mais devo me embrenhar em suas matas
Perdidas pela violação impunida?

Quanto mais devo me banhar em seus rios
Habitados por dragões e cobras gigantes,

Até encontrar repouso na casa de pedra
Erguida entre muralhas de Razão altas?

Deito no chão rude e frio, para esperar passar a noite.
Não há fogo que afaste o tremor de meu corpo.
Não há água que dessedente o fervor de minhas veias.
Não há alimento que sacie o rigor de minha mente.

Ouço os gemidos dos que morreram em vão.
Há o silêncio dos que vivem insanos.
Fantasmas todos que atormentam o meu sono ao léu.

Levanto, ergo-me mais uma vez,
Para dar continuidade à busca da terra natal;
Pátria amada, cantada, mas não decantada...

Vejo abutres planando em círculos.
O gado, com os ossos à mostra, resistindo à queda fatal.
Um cão de cor poeira enlouquecido, latindo pro céu.

Sigo armado com palavras como espada
E com a reflexão como escudo.
Não fujo do bom combate contra a mentira e a opressão.

Aonde quer que eu chegue, como nômade ainda,
Recolho as pedras que construirão a casa e o muro,
E elevarão o meu povo brasileiro
Das trevas medievais à luz da Civilização.

c cardoso

9 de fev. de 2009

Assisto aos telejornais, leio os jornais impressos e os eletrônicos, e deparo-me com incontáveis notícias a respeito da violência disseminada no Brasil: estupros, assassinatos, roubos, brigas de gangues, pedofilia...(uma mulher grávida baleada, uma jovem violentada e morta junto com o namorado, policiais e traficantes em guerra na favela com vítimas de balas perdidas, empresa furtada à luz do dia e das câmeras, caminhões de carga roubados em rodovias federais e estaduais...) Como agravante, em regra, quando descobertos, os criminosos raramente são punidos devidamente, por incompetência e condescendência do Estado e de certas ongs, o que mantém a sensação de que o crime vale a pena e cria a vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Não há como não se quedar perplexo. Pergunto-me em que estágio civilizatório nos encontramos - se é que se pode falar de civilização, quando o que parece predominar é a barbárie. Pergunto-me, também, como países mais avançados ultrapassaram essa era do cada um por si, do desprezo pela vida e do desrespeito total ao contrato social e às leis dele decorrentes. Educação seria a resposta? Mas onde estão os educadores preparados para essa tarefa hercúlea. Eles deveriam, inicialmente, sair de nossas elites, as que até então tiveram acesso à "boa educação". Porém, que educação as nossoas elites podem oferecer, se elas toleram a corrupção e a promiscuidade entre o público e o privado?! Se elas aceitam manter no Poder os demagogos de sempre, mesmo quando aparentam favorecer à mudança? Não é preciso citar o PMDB do Temer e do Sarney, nem o PT, do Lula, da Dilma, do Genro e do Dirceu, como arquétipos que escancaram o fracasso das elites brasileiras, o nosso fracasso, é?! "Luz, quero luz!", eu imploro.

5 de fev. de 2009

A crise segundo Einstein

Recebi mensagem de uma amiga, com o seguinte texto atribuído a Einstein. Não resisto reproduzi-lo pela precisão do seu conteúdo:


A crise segundo "Einstein"

"Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado".
Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la"

Albert Einstein

3 de fev. de 2009

soneto vivo

Eis-me aqui paralisado diante do papel,
À procura do soneto, que revele a beleza da amada, perfeito,
E não esconda, dos seres que habitam a terra e o céu,
O que, por não caber em palavras, fica preso no peito.

Preferiria ser um talentoso pintor,
Para realizar um quadro caótico e abstrato,
Pincelando em cores fortes todo o fervor,
Que me inflama ao desenhar na mente o seu retrato.

Quem preveria minha entrega assim tão rápida
Ao toque encantador desta mulher matreira?
Afinal, era de liberto a personagem a mim ofertada.

Não se espantem se escolho me quedar cativo...
Esta mulher me alimenta de alegria verdadeira
E me inspira a poetar um soneto, se não perfeito, vivo!

c cardoso