26 de mai. de 2008

presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, o ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma
janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso saudade para eu te sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa
da vida
Mas quando surges és tão outra e múltipla e
imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato..
E eu tenho de fechar os meus olhos para ver-te!

Mário Quintana

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