18 de jan. de 2010

A internet mudou meu modo de pensar?

No Estadão de ontem, foi publicado um artigo de Sérgio Augusto a respeito de uma pergunta feita a artistas, psicólogos, cientistas e outras cabeças pensantes de destaque, no âmbito do fórum internacional Edge Foundation: a internet está mudando o seu modo de pensar?
Embora eu seja um anônimo em meio à multidão, e não tenha sido convidado para participar daquele fórum, ouso responder esta interessantíssima e oportuna questão, ao menos para minha reflexão pessoal.
Estou naquele grupo de pessoas que cresceram e alcançaram a vida adulta antes que a revolução da internet chegasse ao Brasil. Soube, pela internet, aliás, que faço parte da geração “baby boomer” (nascidos entre 1946 e 1964) e que, depois da minha vieram a geração X (1965/1981) e a geração Y (década de 80 e início da década de 90), a dos meus filhos – que, por sinal, me ajudam muito quando o assunto é informática - também chamada de geração internet. Estas últimas gerações acompanharam, desde a infância, o desenvolvimento das novas tecnologias, em especial a da informática, e por isso são delas mais íntimas do que as anteriores. Claro que em todas há os que seguem as inovações, uns mais outros menos, e se adaptam a ela de acordo com o seu empenho. Meu pai, parafraseando os darwinistas, dizia que QI corresponde à capacidade de adaptação ao meio, às circunstâncias. Eu, aos 48 anos de idade, venho me adaptando bem, ciente de que, além dos mais jovens, há cinquentões e sessentões melhor ajustados ao mundo virtual do que eu. Isto só contribui para estimular-me a aprender mais e a buscar me valer ao máximo dos instrumentos que as novas tecnologias vêm proporcionando.
E aqui surge a minha resposta à indagação do início: a internet, em si, não mudou o meu modo de pensar. E creio que ela não muda o modo de pensar de ninguém. Ela é, essencialmente, um instrumento que permite o acesso incalculável à informação. Ela não transforma pensamentos mas colabora com o pensar, com uma eficiência jamais oferecida por nenhum outro meio de comunicação. Ela me oferece acesso suficiente a conhecimentos que me autorizam a analisar, a decidir e a agir de modo apropriado às circunstâncias, cabendo a mim explorá-la com sabedoria. A vida é feita de escolhas e, quanto mais bem informada a pessoa for, mais decisões adequadas ela estará apta a tomar e menos consequências danosas tenderá a provocar. De qualquer forma, a responsabilidade é inteiramente nossa, não da internet.
As acusações feitas por gente apegada ao passado de que seus usuários se transformam em pessoas alienadas, isoladas e superficiais na mesma proporção do uso são infundadas. O alienado, o isolado, o superficial, ele já o é independentemente do uso da internet. A internet apenas torna esse fato mais evidente. Aquele que pretende estar ligado à realidade, interagir com o mundo a sua volta, e aprofundar o seus conhecimentos, busca usufruir de todas as possibilidades que esse precioso instrumento disponibiliza, cada vez mais amplas, e extrai realizações concretas em benefício próprio e da coletividade.
Além de instrumento que ajuda a pensar, ela democratiza a expressão do pensamento à medida que torna mais fácil a divulgação de idéias, antes restrita aos que têm acesso aos controladores de jornais, revistas, editoras, e canais de rádio e de TV. Assume, portanto, um papel cada vez mais relevante na preservação e na ampliação da liberdade de pensamento e de expressão, liberdades estas fundamentais para que o ser humano realize todo o seu potencial e a humanidade evolua.
Cabe o seguinte alerta: a sociedade deve combater qualquer tentativa de controle da internet que atente contra a liberdade de expressão, lembrando-se que as melhores idéias florescem em solo de ampla liberdade, onde elas podem ser testadas. A verdade é, se e enquanto, colocada à prova dos fatos, não é desmentida. Se, em relação a ela, são criadas barreiras instransponíveis à crítica, a exemplo do que ocorre com os dogmas de fé e as ideologias, trata-se apenas de uma hipótese que deve ser vista com suspeita.
Não podemos admitir sermos tutelados em nosso acesso à informação como se fossemos idiotas ou crianças.
Por fim, é necessário guardar no coração e na mente: a supressão da liberdade de expressão é o primeiro passo para a violação dos demais direitos fundamentais do homem.

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