21 de jul. de 2008

Batman, o cavaleiro das trevas

Eu, na adolescência, não dava a menor importância a histórias em quadrinhos. Pareciam-me infantis. Os heróis, super-heróis, que me impressionaram estavam nas telas, não nos quadrinhos. Super-Homem, Homem-Aranha, Homem de Ferro, Batman, eu os conheci pela televisão, nas séries e nos desenhos animados. Eu cresci junto com a TV no Brasil, vendo TV, fascinado pelas histórias contadas por meio de imagens em movimento. Um movimento ainda ingênuo e maniqueísta, onde os heróis eram inteiramente bons e os bandidos maus. Isso não me fez um ingênuo nem um maniqueísta. Fez-me desconfiar dos super-heróis. Nada é tão simples. Em um determinado momento da vida, os quadrinhos interessantes eram os do Manara, os da revista Heavy Metal, Mad e Asterix. Perdoem-me os admiradores do gênero. Foi o meu filho, um grande especialista em HQ e colecionador desde pequeno, que me ensinou a respeitar os quadrinhos e me apresentou Neil Gaiman e Frank Miller. Eu ainda prefiro o Gaiman contista, não consegui entender bem as viagens de Sandman. E ainda fico com os super-heróis e seus inimigos lutando na tela. Gostei do Homem-Aranha, e particularmente do Homem de Ferro interpretado por Robert Downey Jr. de modo hipnotizante ( o desenho era um dos meus preferidos na infância). Vi, sexta-feira, Batman, o cavaleiro das trevas. Muito bom! Gothan City, dominada por quadrilhas, parece-nos muito familiar. Em tempos de trevas, quando o Estado é ineficiente e controlado por corruptos, é necessária a presença de um justiceiro, que faz justiça com as próprias mãos seguindo regras próprias. Ele é Batman, venerado e odiado pelos cidadãos de bem da cidade. Mas Batman está cansado do seu papel, quer uma vida comum, quer e confia que o Estado, na figura do promotor incorruptível, assumirá a função de promover a justiça, segundo as leis, e Gothan não necessitará mais dele. Deseja um tempo de luz. Mas o Estado continua falhando, sob o deboche do Curinga. O promotor é vítima da incompetência estatal e da ironia do Curinga, abandona os ideais, e mergulha na amargura e no desejo de vingança, como Duas Faces. O justiceiro permanece indispensável. Christian Bale está muito bem no papel de homem-morcego, expressando convincentemente as angústias do herói. Do filme participam excelentes atores, mas a interpretação memorável fica por conta de Heath Ledge. Este ator, morto prematuramente, encarna tão espetacularmente a maldade e o sacarsmo do Curinga que, aposto, leva um Oscar. Aprendi com o meu filho que HQ também é arte, que na tela do cinema ganha côr especial. Meu filho me ensina a superar preconceitos.

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