17 de abr. de 2008

Reli "1984", de George Orwell, depois de ler "A Revolução dos Bichos". São duas obras que cumprem à risca o papel de uma obra de arte: não apenas provocam prazer estético; perturbam, e de tal modo que, após o contato com elas, é impossível permanecer conformado. Ambas trazem com tema fundamental a liberdade, que, em regra, não recebe o devido valor daqueles que nunca foram vítimas da opressão, embora, também não raramente, venha a ser violentada por quem desejou muito possuí-la. A primeira obra trata de uma sociedade sem liberdade para amar, sem liberdade para pensar e criar, sem liberdade para discordar, sem liberdade para ir e vir, sem liberdade para preservar a intimidade, ou seja, sem liberdade para ser humano em toda a sua dimensão e individualidade. É a sociedade dominada pelo partido único, monopolizador das idéias, único detentor da verdade por ele estabelecida e restabelecida conforme a sua conveniência. É a sociedade conduzida por um mito, encarnado no grande lider carismático, o "Big Brother", cuja imagem é estampada em todos os cantos e cuja voz é um discurso falacioso, acalentador para os mal informados, aterrorizante para os cientes, uma pregação que chega a ofender a razão quando não se está alienado. Será que se a maioria das pessoas soubesse o que representa o "Big Brother", ela dominaria o seu voyeurismo e se indignaria com um programa permeado pelo espírito sufocante desse ente tirano? O outro livro cuida da luta pela liberdade embasada em ideais igualitários logo abandonados por ocasião da conquista do poder. Os lideres e os seus próximos tornam-se sempre mais iguais do que os outros e passam a agir de modo até mais censurável do que os antigos detentores do poder. Há muito de Orwell em filmes como "Matrix" e "Equilibrium". Orwell, ao escrever esses livros extraordinários, teve em mente especialmente o regime stalinista. Mas eles são um alerta contra qualquer regime autoritário, de direita ou de esquerda. Eles merecem ser revisitados, particularmente, por nós latino-americanos, para que fiquemos atentos neste momento em que algumas lideranças e partidos, que se intitulam revolucionários ou messiânicos, vão ocupando espaço no continente e agredindo, uns de forma explícita, outros de forma velada, as liberdades individuais. Recomendo, ainda, uma outra utopia, também apontada como negativa, mas que também é um sinal amarelo: "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley.

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