6 de set. de 2009

Jornada do Lobo

A minha jornada de lobo buscador da verdade começou faz décadas. Não me lembro quando foi a primeira vez que me perguntei qual era o sentido de tudo. Não tinha quinze anos e já questionava o porquê. Toda criança perturba os seus pais com inúmeros porquês. Mas eu indagava questões mais incômodas porque fundamentais: de onde vim, para onde vou, por que sou, para que sou, o que sou, o que devo ser, qual é o meu fim, o que devo fazer para nào ter sido em vão... As primeiras (primitivas) respostas, é claro, foram dadas pelos meus pais. Eles não eram vinculados a nenhuma religião, embora formados católicos. Como bons brasileiros, meus pais traziam no corpo e na mente não só a mistura de raças mas também o sincretismo religioso, em que a morte e ressurreição de Cristo convivem com a reencarnação dos espíritos kardecistas ou cablocos ou nego-veios, apesar das objeções do Vaticano e dos Pentecostais. Respostas insatisfatórias mas marcantes. Por isso, todas as minhas dúvidas e toda a minha busca de respostas se voltavam para o deus do meus pais, o deus brasileiro. Para saber qual a razão do meu ser, eu precisava descobrir o que deus esperava de mim. Somente cumprindo a vontade divina eu me realizaria, só assim eu seria feliz. Contrariamente aos meus pais, entretanto, eu desconfiei que não dava para misturar as coisas. Não dá para ser católico e espírita ao mesmo tempo. São dogmas que não se conciliam. Estudei o Catolicismo e o Espiritismo. Optei pelo primeiro, forte na tradição milenar, sustentada na pedra de Pedro e na Bíblia. Fui antes a centros espíritas, e li Kardec e Chico Xavier, mas não me convenci de que eles ofereciam a verdade. Nenhum dos meus mortos voltaram para responder às minhas dúvidas. Também fui atrás do Budismo, da Teosofia, dos Protestantes...Preferi voltar ao Catolicismo, seguindo o conselho do Dalai Lama de que você deve persistir na sua tradição. No Catolicismo, passei a confessar os meus pecados, a frequentar as missas e a comungar o corpo de Cristo para me transformar em alguém melhor. A fim de ir à raiz do Catolicismo cheguei a ir a reuniões da Opus Dei e a buscar orientação de seu conselheiro espiritual. Mas tudo se revelava sempre contrário à minha razão. Tudo se mostrava tão mitológico quanto os chamados mitos pagãos. Percebi que eu queria crer, mas não acreditava. Eu precisava de um ser transcendente cuidando de mim. É mais confortável acreditar que alguém onipresente, onipotente e oniciente apoia você desde que você siga certas regras, do que perceber que você está por sua conta e risco. Compreendi, entretanto, que essas regras, muitas vezes absurdas, são impostas por homens como eu, que se valem de um deus tão mítico quanto os deuses gregos, indianos ou egípcios para estabelecer a sua autoridade. E que elas podem transformar você em um fundamentalista capaz de se destruir na busca de destruir o que não pensa como você, e de eliminar o que nos faz diferentes dos outros animais, a razão. Eu já intuía isto, mas esta compreensão me deu a filosofia, com detaque para as lições de Luc Ferry que me esclareceram a incompatibilidade entre o livre pensar que leva à verdade e o dogma da religião que aprisiona ao mito. Ele também me apresentou em uma linguagem mais clara as idéias de Kant e de Nietzsche que romperam com o pensamento voltado para o transcendente e estabeleceram um novo rumo para a filosofia. Mostraram que a responsabilidade pela nossa existência e seus frutos é nossa. Daí em diante deixei de perguntar a um deus, que nunca me respondeu, o que ele deseja de mim. Passei a indagar a mim mesmo como escrever a minha história de modo a fazer com que ela mereça ser lida. As respostas, à medida em que forem apresentadas, vão sendo expostas pelo lobo, aqui e agora.

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