16 de out. de 2008

o brasileiro prefere tv a livros

Hoje cedo, fui a uma clínica fazer exames médicos para confirmar o que eu já sei: tenho um bom coração, apesar do meu utilitarismo individualista. Fui lá, também, para verificar porque minha pressão, que normalmente permanece em um nível bom, tendendo para baixa, tem estado alta ultimamente, embora eu não seja banqueiro nem aplique na bolsa de valores. Como de costume, levei como acompanhante um livro: estou lendo a autobiografia de Eric Clapton, um dos meus músicos preferidos. Sempre estou com um livro na mão, lendo quando estou só ou à espera de algum evento. Enquanto aguardava ser atendido, lia, mas incomodado com o barulho da televisão que transmitia um daqueles programas matinais em que se entrevista o ator da novela do momento, aborda o último crime que chocou a cidade e depois ensina uma receita de um prato enviada por um telespectador. Parei para observar as pesssoas que também esperavam no saguão, umas vinte, em sua maioria atentas à tv. Notei que eu era o único que estava com um livro. E um determinado momento, um senhor de barba e cabelos longos e brancos, usando bermuda e tênis como um adolescente - provavelmente ele iria fazer um teste de esforço - passou a mão em um jornal e o folheou; depois, uma mulher sentou-se à minha frente e abriu uma revista semanal de notícias; um cidadão passou por mim com uma revista cujo conteúdo não vai além de fotos de celebridades em ocasiões de invejável lazer. É claro, não foi a primeira vez que observei a ausência do hábito de leitura das pessoas à minha volta, mas essa percepção sempre me desagrada profundamente, porque ela me lembra a razão do baixo senso crítico do meu povo, o que resulta, dentre as inúmeras possibilidades de errar nas escolhas que devemos fazer na vida, na eleição de representantes e governantes que jamais seriam escolhidos por pesssoas esclarecidas. É verdade que até a mim, que possuo um nível econômico privilegiado, assusta o preço dos livros. Dizem que o livro no Brasil é caro porque as pesssoas lêem pouco e as pessoas lêem pouco porque o livro é caro. Como escapar a esse círculo vicioso? Não sei a resposta precisa. Penso entretanto que é necessário baratear o preço, e, para tanto, a produção e a venda de livro não deve ser tributada e a produção de livros de bolso, com material mais barato, deve ser estimulada. Criar mais e mais bibliotecas públicas também é fundamental. Em vez de fomentar a compra de televisões (e automóveis), estimule-se a de livros, ou melhor, a aquisição de cultura. Quem sabe, assim, diminui o risco de o país ser conduzido por semi-analfabetos e por inescrupulosos que se aproveitam da ignorância.

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