6 de out. de 2008

Que ser fascinante e, ao mesmo tempo, apavorante é o humano. Os seres humanos, tão distintos uns dos outros, apesar dos traços comuns. Eis uma boa pergunta: o que se destaca mais, a diferença ou a identidade? Impressionam os extremos: de um lado Hitler, com razão a maior encarnação do mal segundo o imaginário contemporâneo; do outro Gandhi, modelo de tolerância e de não-violência. É claro, nós todos temos algo de Dr. Jekill e de Mr. Hyde, e é hipocrisia afirmar que alguém é totalmente puro ou inteiramente corrupto. Não na espécie humana: nem Hitler era inteiramente mal nem Gandhi inteiramente bom. Chama a atenção, entretanto, o destaque que se dá na mídia à maldade humana. Um dia desses perguntei a uma jornalista o por quê e ela me respondeu que o jornalista tem a obrigação de informar a verdade, “doa a quem doer”, como diria o Boris Casoy. Eu não discordo dela, de jeito nenhum. Também acredito que o jornalista não pode jamais faltar com a verdade. Não por outra razão defendo de modo intransigente a liberdade de expressão e, consequentemente, de imprensa. Mas então, pelo ênfase dado ao que faz mal, cresce a sensação de que o mal tem prevalecido sobre o bem na maioria dos rounds, embora, até o momento sem knock out. O que provoca um pessimismo em nós, que não faz bem à saúde de ninguém. Durante um tempo, eu fiquei sem ler jornal de manhã cedo para não começar o dia com a sensação de que estava intoxicado pelo cheiro da putrefação humana. Por que , por exemplo, não focar mais a beleza e a genialidade de Machado de Assis à bestialidade de um Fernandinho Beira-mar? Que maravilha a atenção dada pela mídia ao centenário do falecimento do nosso escritor mais emblemático! Mas a regra é enfatizar a bandidagem, o que parece indicar que, na vida, brasileira pelo menos, se sobressai a corrupção e não a correção segundo a ética, a barbárie e não a civilização. Quem, com um mínimo de sensibilidade, em face da impotência, não se alienaria, inclusive por meio das drogas, legais ou não? Leiam Huxley! Ocorre que quem é consciente não é capaz de se alienar nem de se conformar, ainda que tente via álcool ou outras drogas. Devemos ir em frente como a vida requer, dispostos a vencer. Que a mídia valorize vencedores e quem quer vencer.

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