7 de out. de 2008

sede de viver

Bob Dylan tem razão: a dor é capaz de dar um toque de beleza a um rosto, porque a face que traz marcas suaves de sofrimento reflete vida bem vivida. Ora, não há vida sem dor porque não há vida sem envolvimento pleno, apaixonado mesmo, e não há esse tipo de envolvimento sem risco de perda e frustração, considerando-se que nada dura para sempre nem é exatamente como idealizado. Quem tem medo da dor tem medo de viver. E não adianta se proteger enclausurando-se, porque não escapará à mais dolorosa das sensações: a de estar-se morrendo minuto a minuto. Não se trata aqui de apologia da dor, que não sou masoquista. Trata-se de realismo, percebido bem pelos taoístas que vêm o positivo como complemento do negativo, o branco do negro, a noite do dia, o bem do mal, o ser do nada, o ying do yang...não existe um sem o outro. O valor da dor está no fato de que ela revela o valor do prazer. Estou entre os utilitaristas: é ético o que causa mais felicidade do que sofrimento a todos os que integram a relação, estabelecida com base na liberdade, na autonomia de vontade. Quando, na balança, a dor supera o prazer, algo está errado, é preciso reequilibrar a balança. Se, apesar do esforço, prevalece o sofrimento, o negócio é romper essa relação, seja com quem for, com o que for. E seguir em frente. Estou entre os que amam a vida e, por isso, apesar dos medos, em especial o de sofrer, não renuncio a ela. Antes, quero vivê-la plena e ser pleno no viver, como aconselha Fernando Pessoa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Posso chamá-lo Lobo?
Obrigada pela visita ao Cenário Atual.

Sou fã de carteirinha do Woody Allen e não me canso de ver ou rever os seus filmes. Hannah e suas irmãs e Manhattan, Scoop e por ai vai.

Gostei muito da maneira como abordou o assunto dor e seus desdobramentos.
bj